O que o colesterol tem a ver com a empresa?
Como metodologia de gestão empresarial, o Balanced Scorecard – BSC – define a criação de indicadores de desempenho para mensuração de uma série de atividades organizacionais. Paralelamente, estabelece construção de um painel de controle para que as informações resultantes dos indicadores sejam constantemente avaliadas. Dessa forma, empresários e executivos dispõem de uma ferramenta valiosa para análise periódica da performance da empresa em suas diversas áreas –financeiro, vendas, produção, marketing etc. –, de modo a traçar ou replanejar as suas estratégias.
É difícil entender, portanto, por que uma metodologia tão importante – a ponto de ser considerada a maior inovação em gestão empresarial dos últimos 75 anos! –, enfrenta tantas dificuldades para ser plenamente implementada. No caso das companhias brasileiras em particular, a grande barreira é a cultural. O termo aqui não se restringe ao ambiente corporativo e profissional, mas ao sentido mais amplo, referindo-se a nossa identidade como brasileiros. O fato é que temos uma grande resistência em aceitar mensurações e controles, seja no trabalho, seja na vida pessoal.
Com certeza você já deve ter passado pela experiência de ter de se impor certas metas e controles para atingir um objetivo – entrar em forma, controlar o colesterol, maneirar no cartão de crédito, aprender uma outra língua –, que no final não foram cumpridas. É natural, pois faz parte de nossa característica como seres humanos – em maior ou menor grau – abrir exceções, maquiar fatos, dar um jeitinho para que esse controle comece depois – Ah, no mês que vem eu começo essa dieta é uma frase que define muito bem essa característica. E assim, comemos um pouco mais de sal, um pouco mais de gordura, deixamos o curso de inglês para o fim de semana ou para o outro mês. Em muitos casos, consciente ou inconscientemente, esse hábito é transportado para o ambiente empresarial. Os planejamentos, metas e objetivos são traçados, mas o dia-a-dia e as prioridades imediatas muitas vezes fazem com que sejam deixadas de lado.
Como é fácil constatar, esse tipo de atitude é extremamente prejudicial tanto na vida pessoal quanto no trabalho. Deixar a dieta ou a academia para depois pode ter como conseqüência uma série de doenças, às vezes até fatais. A mesma sorte tem a empresa que não monitora constantemente o seu desempenho, procurando formas de aprimorar a qualidade de produtos e serviços.
Agora, imagine se você – endividado e com problemas de saúde – prometesse à família reduzir o seu peso, entrar em forma e cortar despesas, divulgando semanalmente um relatório com os seus avanços. E permitisse que sua esposa e filhos sugerissem correções e formas de melhorar o seu desempenho. Na certa, o seu comprometimento – e o envolvimento de sua família – em cumprir as metas seria muito maior. É exatamente isso que o Balanced Scorecard faz ao tornar público o desempenho da empresa para seus funcionários, de modo que a análise e as correções estratégicas necessárias passem a ser responsabilidade de todos, não só da gerência, diretoria ou presidência da organização.
E é por esse motivo que a metodologia só terá sucesso se as empresas investirem em um amplo e persistente processo de aculturação, de modo que funcionários e executivos se conscientizem sobre a importância das medições e controles, assim como se comprometam a participar ativamente desse processo. Caso contrário, de pouco adiantam altas doses de comunicação interna, empowerment, receitas de remuneração variável ou uma forte dieta no planejamento orçamentário. Se as pessoas não entenderem a importância dos indicadores de desempenho e controles para a conquista de metas, seja na empresa em que trabalha ou na sua vida, elas tenderão a utilizá-las inadequadamente.
Fonte
PEREIRA, Roberto. O que o colesterol tem a ver com a empresa? FGV Online: 2013.
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